quarta-feira, junho 06, 2012

Ninguém espera alguma coisa de terça à noite.

Essa é mais uma sessão "um brinde ao delicado da vida". Terças à noite não costumam despertar grandes expectativas. Talvez uma melhoria de sensação de já ter passado a tão martirizada segunda feira. E só. Porém, elas são absurdamente superadas quando temos a oportunidade de assistir um show de Elza Soares com mais 100 pessoas em um teatro que cabem milhares. E só. Não casei aos 12 anos e tive filhos sem condições financeiras a partir dos 13 para saber o que é a sensação de impotência diante da fome. Não perdi 3 deles devido à desnutrição e acidente para entender o que é a dor mais doída que se há. Não vivi nas décadas de 60 e 70 para entender a polêmica de seu relacionamento com Garrincha. Não vivi na época em que o grande festival de calouros era com Ary Barroso e ela passou por lá com seus menos de 40 Kg e cabelo sarará crioulo para saber se eu lhe daria créditos. O que sei é que nunca ouvi uma voz como a dela. O que sei é que seu bate papo com os 100 sortudos da noite foi renovador. Que uma pessoa de 80 anos e operada não precisa ficar a margem da sociedade. Que fazer o que se ama faz todas as perdas e danos não nos matar ainda em vida. Três pessoas em cena e um mundo de lições aprendidas. Generosidade com seus músicos dando espaço e valorizando-os. Generosidade conosco contando suas histórias Nelson rodriguianas. Generosidade mor com seu passeio desenvolto e cheio de propriedade entre "jazzes" e sambas de outrora... OK. Entendo que todo mundo espere alguma coisa de um sábado à noite. Mas, decididamente, não é preciso esperar até lá.