sábado, janeiro 03, 2009

Mulher Independente - Martha Medeiros

Estava ali...jogada em cima da mesa de Clá.
Peguei. Li. Ri.
Não, não era cômica . Mas rir foi a minha reação ao ler a opinião de alguém sobre um assunto que já martelou, por vezes, minha cabeça...
Cá transcrevo para que vocês possam ler também. Foi a primeira crônica que li no ano. E, ufa, não foi sobre a crise mundial.


Estava autografando meu livro quando uma senhora alta, elegante, já
bem madura, chegou sorridente pra mim e disse: "Te acho uma mulher fenomenal".
Eu, toda sorrisos, tomei o livro que ela tinha em mãos e me preparei para
escrever uma dedicatória bem carinhosa. Ela então complementou: "Mas eu não
queria ser casada contigo - tu és muito independente!"
Concluí a dedicatória, agradeci a gentil presença dela, enquanto que
meu coração começou a bater de forma um pouco mais lenta. O que estou sentindo?
perguntei a mim mesma, em silêncio. Tristeza, respondi a mim mesma, em silêncio,
enquanto a próxima pessoa da fila se aproximava. Em que eu seria mais
independente do que qualquer outra mulher? Quase todas as que conheço trabalham,
ganham seu próprio sustento, defendem suas opiniões e votam em seus próprios
candidatos. Algumas não gostam de ir ao cinema sozinha, já eu não me importo.
Poucas moraram sozinhas antes de casar, eu morei. Quase nenhuma, que eu lembre,
viajou sozinha, eu já. E nisso consta toda minha independência, o que não
meparece suficiente para assustar ninguém.
Fico imaginando que essa
tal "mulher independente", aos olhos dos outros, pareça ser uma pessoa que nunca
precise de ninguém, que nunca peça apoio, que jamais chore, que não tenha
dúvidas, que não valorize um cafuné. Enfim, um bloco de cimento.

Quando eu comecei a ter idade pra sonhar com independência, passei a ler
afoitamente os livros de Marina Colasanti - foram eles que me ensinaram a
importância de abrir mão de tutelas e a se colocar na vida com uma postura
própria, autônoma, mas nem por isso menos amorosa e sensível. Independência nada
mais é do que ter poder de escolha. Conceder-se a liberdade de ir e vir,
atendendo suas necessidades e vontades próprias, mas sem dispensar a magia de se
viver um grande amor. Independência não é sinônimo de solidão. É sinônimo de
honestidade: estou onde quero, com quem quero, porque quero.
Sobre a
questão da independência afugentar os homens, Marina Colasanti brincava: "Se
isso for verdade, então ficarão longe de nós os competitivos, os que sonham com
mulheres submissas, os que não são muito seguros de si. Que ótima triagem".
Infelizmente, a ameaça que aquela senhora acredita que as
independentes representam não é um pensamento arcaico: no aqui e agora ainda há
quem acredite que ser um bibelô (ou fazer-se de) tem lá suas vantagens. Eu não
vejo quais. Acredito que a independência feminina é estimulante, alegre,
desafiadora, vital, enfim, uma qualidade que promove movimentação e avanço à
sociedade como um todo e aos familiares e amigos em particular.
"Eu preciso de você" talvez seja uma frase que os homens estejam
escutando pouco de nós, e isso talvez lhes esteja fazendo falta. Por outro lado,
nunca o "eu amo você" foi pronunciado com tanta verdade.

Martha Medeiros.

PS.: Um feliz ano novo para todos nós !

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