segunda-feira, agosto 31, 2009

O corpo enlouquece

Vocês repararam que agosto foi um mês menos autoral. É que eu estou viciada em tantos cronistas e colunistas que tenho lido mais que escrito. O último dia do mês será assim também. Setembro é mês de primavera. Talvez eu fique mais criativa.

A relação das mulheres com o próprio corpo parece cômica, mas é insana

Uma vez pus a mão na barriga de uma moça e o mundo simplesmente parou.

Ela deu um salto, tirou minha a mão com delicadeza possível para uma pessoa aflita e se encolheu para longe de mim. "Não gosto que mexam na minha barriga", explicou, sem voz e sem jeito.

Dias depois, num clima mais adequado, perguntei qual era o problema. Ouvi que ela detestava a própria barriga, sobretudo quando estava deitada de lado e a barriga, segundo ela, "caia".

Uma carícia naquele pedaço do corpo tinha efeito de um jato de água fria.

O objeto da discussão – para que fique claro – era uma linda barriga de mulher. Sem músculos, macia, fazia uma curva imperceptível para dentro a partir do esterno e terminava num arcozinho convexo lá embaixo, na região do umbigo. O desconforto da moça era inexplicável. E irredutível.

Quem já viveu uma situação dessas levante a mão?

É um segredo público que muitas mulheres têm uma relação maluca com o próprio corpo. Essa forma suave ou trepidante de loucura é alimentada por milhões de fotos de revistas (masculinas e femininas) e por complexos criados na infância (e na adolescência) a partir de comentários absurdos.

Lembro de uma namorada que não usava sandálias porque "tinhas os pés feios". Era uma bobagem familiar que ela carregava a caminho dos 30. Seus pés eram normais, perfeitos, mas foram necessários anos de elogios sinceros para reverter o trauma.

Conheci outra moça que se achava muito baixinha. Punha salto alto até para ir ao banheiro. Sem ele se sentia nua, ou pior, feia, embora fosse encantadora. Da ultima vez que a vi estava usando um sapato sem salto. De alguma forma, descobriu que era possível.

O carinho e a atenção dos parceiros são importantes nesse processo. Essencial, até – e não só com as mulheres. Na juventude eu me achava magro demais. Foi preciso uma namorada dizer que gostava da minha magreza para que eu me sentisse mais seguro.

Mas, sendo homem, eu nunca estive preso à ditadura estética que cerca as mulheres. A rigor, nunca fui julgado (somente) pela minha aparência. Claro, todo homem já foi preterido pelo bonitão ao lado, mas nós somos treinados para entender essa rejeição como um equívoco passageiro – daqui a pouco ela vai perceber que o sujeito é um saco de vento e vai me dar atenção.

É uma forma ingênua de autoengano, mas tem um pé na realidade: em geral as mulheres não gostam de homens bobos.

Com as mulheres é diferente. Elas são julgadas diariamente pela aparência. Inteligência, caráter e até sucesso econômico têm peso menor quando se trata de atrair parceiros. E as exigências estéticas de certos homens – exacerbadas pelas revistas de mulheres retocadas – são simplesmente imbecis.

Isso tudo já seria problema suficiente para duas gerações de feministas se as mulheres não tornassem sua vida ainda pior incorporando a lógica do inimigo.

Nos últimos tempos as mulheres passaram a medir a si mesmas com a métrica rigorosa dos onanistas. Bunda, barriga, braços, peito, pele: tudo tem que estar rigorosamente "no lugar".

Tenho amigas que se acham "caídas", apesar de arrastarem os olhares masculinos. A opinião dos homens (parece) só interessa quando é negativa. Isto é, quando confirma a visão ruim que elas têm de si mesmas.

O sujeito que elogia uma mulher que se acha feia é tratado por ela como idiota ou tarado: como ele não percebe que eu estou um lixo?

Isso representa a vitória total do hardware sobre o software, a consagração absoluta da carne sobre o espírito – como se fosse possível, sequer imaginável, que os encantos de um ser humano (sobretudo uma mulher!) pudessem ser reduzidos às medidas de quadril, cintura e busto.

Esse reducionismo transformado em fenômeno de massa é tão burro que chega e ser incompreensível.

Você acha que não? Então responda as perguntas abaixo, que eu acho válidas para homens e mulheres:

1. A pessoa que mais mexeu com você era a pessoa mais bonita com que você se envolveu?

2. Você realmente acha que uma mulher linda, gostosa e boba vai ser companhia por mais que alguns dias?

3. A mulher mais sedutora que você conhece é a que tem o corpo mais bonito ou a personalidade mais atraente?

4. O melhor sexo que você já fez na vida foi com a pessoa mais bonita que deitou com você?

5. Você acha que beleza é um conceito absoluto, que não varia com os sentimentos de quem olha?

Bom, a maioria de nós sabe as respostas a essas perguntas. Elas nos sugerem que a beleza, embora importante, (embora irresistível até, em alguns contextos), não é tão indispensável quanto parece. Sozinha ela não vai longe.

Contrariando Vinícius, eu diria: que me perdoem as belas, mas beleza não é realmente essencial.

(Ivan Martins )

quarta-feira, agosto 26, 2009

IX Festival de Teatro de Resende!

Já falei desse festival (que bem me impressionou) aqui no blog há dois anos, quando eu tive a oportunidade de assistir a peça Alma Imoral. Ele está em sua 9ª edição com um pouco menos de verba e um pouco mais de manifestações culturais.
Nesse ano, será possível ver danças e peças infantis.
Segue a programação ! E lá vou eu amanhã! ;)

terça-feira, agosto 25, 2009

Frase da terça!

"QUIDQUID LATINE DICTUM SIT ALTUM VIDITUR."
"Qualquer coisa dita em latim parece profunda."

Não me leve a mal...mas foi inevitável não perder o comentário! rsrsr

domingo, agosto 23, 2009

Frase do domingo

Lá fora, além do que está certo e do que está errado, existe um campo intenso.
Nos encontraremos ali.


Mevlana J. Rumi

terça-feira, agosto 18, 2009

Marilyn Monroe

Uma senhora americana está vendendo o túmulo de seu marido que fica simplesmente em cima da Marilyn Monroe para poder pagar sua hipoteca. Eita crise!
Ela colocou um anúncio no site eBay para leiloar a tumba em Westwood Village Memorial Park, em Los Angeles, que dizia "Aqui está uma oportunidade única na vida e na eternidade para passar seus dias diretamente em cima de Marilyn Monroe. Inclusive, a pessoa que está ocupando o local agora está olhando para baixo."
P-u-t-z !
O lance inicial foi de US$ 500 mas já alcançou a casa de alguns milhões!!!
O senhor só não deve estar se revirando no túmulo porque já está na posição que lhe é conveniente...



* embora a cena deva ser muuuuito diferente da que a imortalizou como símbolo de glamour e sensualidade hollywoodiana...
(imagine aquela cena do vento levantando seu vestido !)

sábado, agosto 15, 2009

Amor e perseguição

“As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Norman Mailer. Copiem. Decorem. Aprendam.
Temos a mania de achar que amor é algo que se busca. Buscamos o amor em bares, buscamos o amor na internet, buscamos o amor na parada de ônibus. Como num jogo de esconde-esconde, procuramos pelo amor que está oculto dentro das boates, nas salas de aula, nas plateias dos teatros. Ele certamente está por ali, você quase pode sentir o seu cheiro, precisa apenas descobri-lo e agarrá-lo o mais rápido possível, pois só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade.
Amor não é medicamento. Se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará,e, caso o faça vai frustrar suas expectativas, porque o amor quer ser recebido com saúde e leveza,ele não suporta a ideia de ser ingerido de quatro em quatro horas, como antibiótico para combater as bactérias da solidão e da falta de auto-estima. Você já ouviu muitas vezes alguém dizer: “Quando eu menos esperava, quando eu havia desistido de procurar, o amor apareceu”. Claro, o amor não é bobo, quer ser bem tratado, por isso escolhe as pessoas que, antes de tudo, tratam bem de si mesmas.
“As pessoas ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas quando, na realidade, o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas”. Norman Mailer. Divulguem. Repitam. Convençam-se.
O amor, ao contrário do que se pensa, não tem que vir antes de tudo: antes de estabilizar a carreira profissional, antes de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir do seu surgimento, tudo o mais dará certo. Queremos o amor como pré-requisito para o sucesso nos outros setores, quando na verdade, o amor espera primeiro você ser feliz para só então surgir diante de você sem máscaras e sem fantasia. É esta a condição. É pegar ou largar.
Para quem acha que isso é chantagem, arrisco sair em defesa do amor: ser feliz é uma exigência razoável e não é tarefa tão complicada. Felizes aqueles que aprendem a administrar seus conflitos, que aceitam suas oscilações de humor, que dão o melhor de si e não se autoflagelam por causa dos erros que cometem. Felicidade é serenidade. Não tem nada a ver com piscinas, carros e muito menos com príncipes encantados. O amor é o prêmio para quem relaxa."

Mais uma da MM !

terça-feira, agosto 11, 2009

Ecofont


A agência de comunicação SPRANQ criou uma fonte nova: a Ecofont. As letras são cheias de furinhos circulares que prometem uma economia de 20% em tinta no caso de impressão.
A Ecofont pode ser baixada e usada gratuitamente no site http://www.ecofont.eu
É uma boa sacadinha no Mkt da moda de associar as marcas a sustentabilidade, ecologia e etc...etc...
E aí , vai metralhar as letras de suas composições ?

domingo, agosto 09, 2009

Resende City ...

Hoje saí pela 2ª vez, na cidade de Resende, tirando fotos à noite.
Vi lua cheia, capivara , teias de aranha e muitos olhares curiosos. Ouso dizer que pelos cérebros que interpretavam o que esses olhos viam passava algo como: O que essa menina está fazendo ?
Bom...eu estava apenas olhando com mais carinho para alguns pontos que passo com displicência; e por um segundo motivo...na verdade um desejo...um plano...
Aqui um pouco do resultado :

Ainda que tenha sido um crime terem tirado suas tábuas originais concretando-te levianamente , ponte velha ainda és, para mim, o símbolo da cidade . E ponte, é passagem.

Luzes pelo caminho ...

quarta-feira, agosto 05, 2009

Nostalgia... saaaaiiiii

Ao contrário dos que se gabam de olhar apenas para frente, eu sofro desde adolescente de torcicolo existencial: vivo olhando pra trás, fascinada e (às vezes) apaixonada pelo passado.
Percebi essa dificuldade pela primeira vez ao gostar de um garoto que queria só ser meu amigo: eu só conseguia pensar nele mesmo quando ele estava namorando e ainda deixasse sempre claro que nossa amizade era, no máximo, colorida. Estou falando de muitos, muitos anos nessa lengalenga que me prendia aos tempos de bate papo na praça. Intermináveis emails que procuravam um indício qualquer de reciprocidade... ledo engano... e que atraso. Só desfiz essa pendência quando percebi em uma conversa desarmada e despretensiosa que não se pode recuperar nada de uma paixão que se teve aos 16. Hoje somos melhores amigos que antes porque a relação é mais leve; e ganhamos bem mais assim.
Mais tarde, deparei com a mesma dificuldade. Depois de semanas de namoro, interessadíssima nas possibilidades que vinham no pacote, levei um pé na bunda e gastei outras tantas semanas tentando fazer o tempo voltar. Inutilmente.
E quantas vezes eu já lamentei não ter aprendido a tocar um instrumento musical ? Em todas as rodinhas de música ( cada vez mais escassas ... aí que saudade !) eu sempre falo da frustração em relação a bateria , gaita ou qq instrumento de percussão. E a faculdade ? Quantos banhos de cachoeira dispensados que hoje me arrependo até as espinhas ( que não arrepiaram com as águas gélidas das nascentes da região)?
E tome desculpas para justificar. "Ninguém é como ele" , " Temos uma sintonia inexplicável", " Não tenho tempo para as aulas de bateria" etc...etc...
Os amigos cansam de ouvir a ladainha. O analista vira testemunha remunerada de um luto que não acaba. Até a família perde a paciência. Uma tristeza.
A vida deveria empurrar à construção prática do mundo. Afinal, não temos tempo a perder e assim se perde. Às vezes a vida inteira.
Não me entendam mal ... não quero esquecer o passado porque ele me fez aprender e nele aconteceram coisas muito, muito boas de se lembrar ! Ele inclusive condiciona o dia de hoje mas a grande questão é que não o determina inteiramente, não o impede e, principalmente, não o substitui.
Ainda internalizo essa máxima .


* Texto e alguns termos inspirados em IVAN MARTINS que é editor-executivo da ÉPOCA

terça-feira, agosto 04, 2009

domingo, agosto 02, 2009

Se eu fosse eu

"Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor, sentir.
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida.
Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como ? Não sei.
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido.
No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar.
Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais".

Clarice Lispector