sexta-feira, julho 24, 2009

Uma das coisas que mais me repeliam dos grandes centros era a impessoalidade das relações onde vizinhos de porta não se conheciam. No máximo desejavam "bom dia" e comentavam sobre o clima no elevador; lugar que ao longo dos anos foi se tornando, sem dúvida, um dos mais incômodos de todo o edíficio por te obrigar a ficar ali, enclausurado com o estranho da porta ao lado, sem qualquer assunto em comum, ainda que por vezes você saiba até o estilo de música que o cara gosta e ache o cheiro da comida que sai de sua cozinha uma delícia.
O que eu não tinha internalizado ainda era a minha hipocrisia em atribuir tal realidade às grandes cidades na necessidade de deixar a questão bem longe de mim. Hoje fiz tudo como sempre faço até chegar ao elevador e encontrar um menino que nunca tinha visto. Em poucos minutos descubro que ele estava ajudando na mudança do apto ao lado. Ouvindo nossa conversa, eis que a moradora aparece na porta e, para minha surpresa, era a minha dentista !!!! Tem noção ? Eu nunca tinha trocado uma palavra com a minha vizinha para quem simplesmente já tinha aberto a boca como para poucos ! Não consegui disfarçar minha surpresa ao passo que ela já disse que sabia, desconfiava ou sei lá o quê. Bom, sinceramente eu não sei porque ela não falou antes mas o que me fez refletir não foi sua indiferença ou essa coincidência que nos faz concluir que o mundo é pequeno ! Foi perceber como viajamos, aprendemos, refletimos e criticamos as relações humanas contemporâneas mas, ao mesmo tempo, estamos inseridos (até os dentes! ) nessa espiral.
O dia mal tinha começado quando tive essa pequena lição.
Mais do que reconhecer em minha vizinha a minha dentista, reconheci na vizinha da minha dentista sua hipocrisia diante do que criticava de antemão.

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