domingo, julho 02, 2006

19/05/06
   A aventura começa ! Escrevo minhas primeiras palavras de dentro de um Boeing 747 - 400 da Air France. Deixo para trás minha zona de conforto e o colo dos que amo para ficar 30 dias no Mundo Velho. Estou no 2º andar, poltrona 64 - janela. Minha bagagem de mão não coube no compartimento destinado a ela e cá está, debaixo dos meus pés, já descalços, aumentando ainda mais o desconforto.
   O avião está lotado de franceses mas, felizmente, o cheiro está agradável. A aeromoça dá as boas-vindas e primeiras instruções. Francês , português e inglês. Ok... na verdade o que ela quer é que todos apertem os cintos.
   O avião decola... estou , literalmente, nas nuvens! Resolvo validar um filme na minha TV de bordo. Escolho Brokeback Montain porque Match Point eu já vi. Não preciso de muito tempo para perceber que ver um filme bom 2 vezes pode ser uma boa opção. Resolvo, ainda sim, ver o que escolhi até o fim; pacientemente. E pacientemente também, opto por jogar paciência logo em seguida.
   A assim as horas vão passando... tento cochilar mas consigo poucas vezes; vira e mexe ( e como viro e mexo!) coloco no canal onde posso ver a altitude, velocidade (950 km/h!) , tempo de viagem, tempo restante e localização atual... Estou na África! Mais uma vez... ;P .
   Um pouco mais de 10 horas da partida, o monitor acusa 45 min restantes. Acerto meu relógio para o horário local - 5 horas a mais - e me preparo pra descer.
(...)
   Chegamos. Paris nos recebe como faria São Paulo. Chuva e frio. Desembarcamos e fomos procurar a locadora de veículos. Um Renault Scenic. A moça aqui não participa das burocracias para o aluguel. Apenas da que proíbe menores de 25 anos a alugarem um carro por aqui... :/
   Acertar o caminho do hotel não foi difícil. Isso é uma grande vitória porque, afinal de contas, estamos falando de Paris! Mas como todo brasileiro precisa de um mico por aquelas bandas, cá está o nosso, bem no primeiro dia : O Augusto passa um sinal no amarelo bem devagar . Isso é suficiente para o policial pedir que encostássemos e mostrássemos os documentos. O cenário erá invejável: exatamente na frente do Arco do Triunfo - provavelmente o culpado pela velocidade tão reduzida!
   Documentos apresentados e advertência verbal dada, seguimos. O dia prometia. Deixamos a bagagem no hotel e fomos para a rua. O check in erá só às 14:00 e avançavam os primeiros minutos das 9h da matina...
   Em poucos minutos estávamos na tão aclamada Tour Eiffel com seus 324 metros e 1665 degraus!! Éramos, eu, Augusto e Fadul, apenas mais três entre a multidão que transitava no Parc du Champ de Mars . Todos vivendo - e fotografando- o sonho de milhões de pessoas em todo o mundo ! Um parenteses para um filosofada de botequim : A vida é fascinante! Simplesmente estou no lugar mais visitado do planeta, onde não pensava estar tão cedo há bem pouco tempo e com todo um volume de imagens e informações por vir! Isso dá duas sensações que chegam a ser divergentes. Por um lado vejo que não temos domínio de quase nada. Que podemos sim, planejar e traçar alguns objetivos... mas que não podemos ligar muito se isso der um giro de 180º! Mas ao mesmo tempo, percebo que posso mais. Que posso fazer o impensável de hj, ali... amanhã. E que medos, angústias, certezas estão sempre mudando... Acho que tem muito a ver com a frase que já postei por aqui... que quando vc pensa que achou a resposta para todas as perguntas , as perguntas mudam!
Bom chegar a essa conclusão porque ainda tenho toda uma rotina de trabalho e uma semana na Itália, sozinha, pela frente.
   Continuando nossa caminhada, atravessamos a Pont d´Iéna, sobre o rio Siena, em direção ao belo Pallais de Chaillot. A chuva aperta e procuramos abrigo em seu interior. Mais especificamente no Museum d´homme. São necessários 20 min para que a chuva dê uma trégua e possamos sair. Fotos , tradicionais e engraçadinhas, da torre são tiradas e dá-se a hora de fazer o check in. Resolvemos, então, fazer o caminho de volta com direito a um pequeno desvio: Hôtel dos Invalides. Um jardim lindo, todo verdinho e bem cuidado com estátuas e bustos de pessoas importantes (para eles!) da guerra...
   Entramos e pudemos ter uma aula de história: canhões, relógios, meios de transporte e afins. Comprando o ingresso é possível visitar o "duomo" onde fica os restos mortais de Napoleão. Cruzando sua extensão, passamos pelo Musée de L´Armée e, complementando a voltinha a mais, pudemos entrar na Igreja de Saint-Louis. Em seu interior, uma curiosidade: várias bandeiras. A explicação: as bandeiras dos inimigos eram tomadas como "prova" da vitória ! Antigamente elas ficavam na Igreja de Notre Dame mas, depois do incêndio desta, as que sobraram vieram para cá.
   Saimos da Igreja. Saímos do Hotel dos Invalides. Fomos para o nosso hotel. Hotel de France. Meu quarto? 301. Banheiro com banheira ...ahhhhhhhh que banho gostoso! Depois um cochilo de 30 min.
   Sem perder mais tempo, rua de novo! Resolvemos, dessa vez, ir mais longe : Balisique du Sacré Coeur, em Montmartre. Seguimos , então, para o metro e compramos o passe de 1 dia. Estação École Militaire - Concorde - Abbesses, chegamos lá! A região é bastante simpática. Mal comparando, Santa Teresa de Paris; ou em Buenos Aires, Caminito. Vários barzinhos, tabacarias, feiras, pequenas exposições, degustação de petiscos e vinhos. Paramos para um lanche e seguimos para a Igreja que, para variar, era linda! Em seu interior há vários santos, os momentos que antecedem a morte de Jesus Cristo, lustres super trabalhados e, claro, centenas de turistas. Voltamos para a parte de fora e apreciamos a vista de toda Paris. Jovens tocavam violão em suas escadas e a chuva parecia ter dado mesmo uma trégua.
   Próximo destino: Citté. Lá fica a Igreja de Notre Dame. Antigamente, a cidade era só aquele miolinho. Com o tempo, ela foi crescrendo, crescendo, crescendo até virar isso que é hj ( e que estamos tentando desbravar!). Para chegar lá descemos na estação Chateau Rouge - a única que me chamou atenção até agora. Era notória a predominância de negros naquela região. Tive a impressão de estar em um daqueles guetos de filme americano. As pessoas falavam alto e tinha até comércio ambulante.
   Chegando na citté, fomos em direção a Igreja. Não tenho ceteza mas acho que seu estilo é gótico. A riqueza de detalhes e a perfeição dos mesmos, fascina! Entramos e a parte interna não deixava a desejar - igualmente linda e rica! Na parte de trás havia um jardim, a square Jean XXII, onde sentamos para decidir nossa próxima aventura! Passava das 18:00h e ainda era dia. Nossa empolgação para conhecer mais e mais coisas era maior que nosso cansaço de uma noite só de cochilos. Decidimos pegar novamente um metrô e ir para o Jardin du Luxembourg. Descendo na estação, ainda fizemos um bom trecho a pé pelas ruas do Vº arrondissement. Antes do jardim, uma parada do Panthéon. Essa igreja, concebida em 1764 por Luís XV em agradecimento a Sainte Genevière por sua recuperação de uma grave doença, foi concluída em 1789. Três anos depois ela foi dedicada à memória dos grandes nomes da Revolução. Sua fachada é inspirada no Panteon Romano e sua frente é muito bonita; seu pórtico tem 22 colunas.
   Chegamos no jardim e, em dois minutos, já descobrimos porque os parisienses gostam de morar nessa redondeza. Bonitas alamedas, várias esculturas, o jardim inglês com flores multicoloridas e o pomar com centenas de árvores diferentes dão charme ao lugar! Passamos pela Fontaine de Médicis, Grand Bassin, um lago octogonal e pelo Palais du Luxembourg que foi feito , na época, para que a viúva de Henrique IV se recordasse de sua cidade natal, Firenze, na Itália ( seu estilo é igual ao do palácio Pitti, em Florença). Hoje ele é sede do Senado mas, após ser palácio real, ele ainda serviu como prisão e, na 2ª guerra, como QG; com vários abrigos anti-aéreos construídos sob seus jardins.
   Notamos então que era hora de descansar! Uma bela jornada para um primeiro dia, não? De volta ao hotel coloquei minha roupa molhada atrás do frigobar e fui dormir...

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