domingo, abril 19, 2009

Um domingo qualquer

*enviado por uma fraude que atende pelo nome de Rapha ;P

por Rica Perrone

Era um dia frio, sem chuva. Seria um dia chato, não fosse o Maracanã lotado e a
expectativa de um título. Ele não era fanático, sequer tinha visto o estádio
lotado na vida, até então. Tinha 13 anos e torcia, timidamente, para o
Palmeiras, apesar de morar no RJ. Naquele domingo seu pai o levou na final. De
bandeira, camisa e ingresso na mão, chegou assustado com a multidão. Entrou
faltando 15 minutos pra começar e, quando olhou em volta, disse: "Pai, quantas
pessoas tem aqui?!?".
- Muitas, filho... uma nação inteira, disse o pai.
Aquela multidão explodiu em faixas, bandeiras e papel picado minutos depois. O
garotinho se encolheu com medo e sentou. Com 1 minuto de jogo a torcida levantou
e não deixou que o guri visse mais nada. Ele ouvia, sentia, mas não assistia.Seu
pai, rubro-negro fanático, não tinha muita esperança de que seu pivete
palmeirense um dia se envolvesse com futebol. Jamais mostrou grande interesse, e
só torcia porque tinha um amigo que era palmeiras.
O Flamengo saiu ganhando,
mas não bastava. Tinha que ser com 2 gols de diferença, ou nada. Seu pai
explicou que "faltava um", e o garotinho não entendeu. Afinal... vitória não é
vitória de qualquer jeito? Sofreu um gol, e ele não tirou sarro do pai como
sempre fazia. Ficou triste, como que contagiado pela multidão. O outro lado, 40%
do estádio apenas, fazia barulho, e ele ouvia o silencio da nação a sua volta.
Segundo ele, o silencio mais dolorido que já escutou na vida.
O Flamengo fez
o segundo, e o garotinho, se envolvendo com o jogo, vibrou. Pulou no colo do seu
pai e o abraçou como se fosse um legítimo urubuzinho. Não era, ainda. A torcida
começou a cantar o hino, que ele sabia de cor de tanto ouvir o pai cantar. Pela
primeira vez, cantou num estádio, e fez parte da nação. A angústia de milhares
não passou em branco. Em mais alguns minutos o garotinho suava e já rezava de
mãos grudadas ao peito. O Flamengo virou, mas não bastava.40 minutos do segundo
tempo. Mesmo com 2×1 no Placar, a nação ouvia gozações do outro lado. Ele não
entendia, e fez o pai explicar, mesmo num momento dramático do jogo.
Atencioso, o pai sentou e contou pro garoto que o Flamengo precisava ter 2
gols de vantagem, porque a vitória por um gol empataria a soma de 2 jogos, e o
empate era do rival. Ele não entendeu bem, mas simplificou em sua cabeça:"Mais
um e ganharemos". Opa... "ganharemos"? Ele não era palmeirense?
E então, aos
43 minutos, onde alguns já se mexiam na direção da saída, uma falta do meio da
rua. Seu pai vibrou e ele questionou: "O que foi? Foi pênalti!? "- Quase isso,
filho!! Dali pro Pet é pênalti!!, profetizou o pai, ignorando a distância da
falta. A cobrança... o silencio eterno de 1 segundo e a explosão. Gol
doFlamengo! Petkovic! E seu pai o abraça como nunca abraçou em toda sua vida.
Pula, joga o garoto pra cima, beija, chora...
O garotinho, numa mistura de
susto com euforia, olha em volta e, de braços abertos, comemora em silencio um
gol que não era dele. Sem razão, ele chora. E chorando, abraça o pai que,
preocupado, rompe a alegria e pergunta: O que foi? O que foi? Se machucou?
-
Não... Eu to feliz, pai!
Sem mais palavras, o pai sentou e abraçado ao
garotinho deu um abraço de tricampeão. O jogo acabou, e os dois continuaram
abraçados. A festa rolando, os dois assistindo a tudo aquilo emocionados, o
garotinho absolutamente embasbacado com a cena, já que nunca havia visitado um
estádio lotado, muito menos uma decisão. O pai olhava pro campo e pro filho,
porque sabia que, talvez, aquele fosse seu único momento na vida onde teria a
imagem de seu garoto comemorando um titulo do time dele. E chorava, sem vergonha
nenhuma de quem estivesse em volta.
O menino foi embora pensativo, eufórico.
Em casa, contou pra mãe com uma empolgação incomum sobre tudo que viveu naquela
tarde. E não falava do jogo, apenas da torcida. Iludido por uma frase, contou
pra mãe:- Aí, no finalzinho, teve um pênalti! E o Flamengo fez o gol...- Não
filho... não foi pênalti! Foi de falta.- Mas você disse que foi pênalti...- Era
modo de falar.... hahahahahah- Então, mãe... aí, o cara fez o gol e a gente foi
campeão!!!
Pronto. Aquele "a gente" fez o pai parar de colocar cerveja no
copo, virar acabeça lentamente e perguntar, com medo da resposta:- A gente,
filho?(silêncio...)- É pai! O Mengão!!!!!Emocionado, o pai abraçou o garoto e
não falou nada. Ali, seu maior sonho virava realidade. A mãe entendeu, deixou os
dois na cozinha e saiu de fininho, enquanto o pai começava a contar de uma outra
final que viveu em mil novecentos e bolinha, com toda a atenção do novo
rubro-negro. Hoje o garoto tem 21, completados há alguns dias. Quando seu pai
perguntou o que ele queria de presente este ano, a resposta foi essa: - Dois
ingressos, uma bandeira, a camisa nova e ver você chorando igual aquele dia.


RicaPerrone

Um comentário:

Anônimo disse...

Ih, acho que bem sei quem lhe enviou isto..hahaha