terça-feira, agosto 19, 2008

Engenheira ? Eu ?!?

Tenho a convicção de que muitas pessoas não entendem a minha vida. Dentro de uma normalidade, ninguém entende a de ninguém eu sei. Na verdade nem eu a entendo por completo. Mas estou falando de forma acentuada.
Amizades iniciadas em viagens, bate papos na Internet ou na fila do pão se surpreendem quando digo que sou engenheira. Lembro -me com orgulho quando Fabiano me perguntou se eu era jornalista. Disse que eu escrevia muito bem. Gê também achava que eu era de algum ramo mais "humanas". Há quem ache ,ainda, que eu deveria trabalhar em uma ONG, fazer faculdade de turismo ou ,no extremo, virar hippie.
Muitos dos que me conheceram já com essa informação , no ambiente de faculdade ou mesmo profissional, acham que eu escolhi a profissão errada. Aí sim eu deveria me preocupar porque eu trabalho com isso e preciso mostrar , de alguma forma, performance.
São pessoas que, com a aptidão por exatas têm um pensamento quase tão exato quanto 2 + 2 = 4. No setor que trabalho, as pessoas ou estão casadas ou noivas. No mínimo, namorando. Suas prioridades são juntar dinheiro para trocar de carro enquanto eu nem tenho um para trocar. Juntar dinheiro para comprar o apartamento ou reformar o existente enquanto o meu ainda se parece com uma república. Juntar dinheiro para casar enquanto eu nem tenho namorado. Ah e eles gastam muito de seu tempo pensando porque eu não tenho namorado.
Pois é... já tive que ouvir (ou ouvir dizer) que não entendem como uma pessoa "tão interessante" não tem namorado. Assim mesmo... como se fosse uma espécie de credencial para você fazer parte da sociedade. Talvez porque muitas pessoas de fato acham que precisam. Talvez porque precisam mesmo. Desconfio até que já tenha passado por suas cabeças que sou lésbica. Assim achariam uma justificativa para todo esse questionamento em vão.
Eu não tenho namorado porque eu não tenho um cara com quem quero namorar e que a recíproca seja verdadeira. E contentem-se com essa resposta simples assim ainda que os porquês sejam um pouco mais complexos.
O que acontece é que eu sou de um jeito que convive com pessoas de outro jeito e isso me faz estar em destaque. Estou até melhorando meu convívio com essa realidade uma vez que tenho passado menos por metida e desinteressada.
Já refleti, inclusive, se eu tenho a pretensão (ou legado) de humanizar a engenharia... ser uma engenheira romântica ou uma romântica engenheira. (Esquecendo um pouco o fato d´eu não ter namorado e voltando na questão de não parecer ser engenheira .)
Concordo com o que disse um professor em seu texto no Correio do Brasil : "(...) habitar poeticamente o mundo ao articular a máquina com a poesia, o trabalho rotineiro com a criatividade, o interesse com a gratuidade, a objetividade nos conhecimentos com a subjetividade emocional, o pão penosamente ganho, com a beleza fascinante das relações calorosas. Isso deve ser resgatado.A sociedade da tecno-ciência e do conhecimento nos enviou ao exílio,roubou-nos o sentimento de um lar e de uma pátria e principalmente nossa capacidade de nos comover, de chorar, de rir gostosamente e de nos apaixonar pela natureza e pela vida (...)"
Diria mais: nos apaixonarmos pelas possibilidades! E elas são tantas quando saímos no nosso mundinho pré conceituado e nos permitimos conhecer formas diferentes de ser, fazer, pensar, comer, rezar, agir ...
Sou uma engenheira apaixonada pelas invenções do engenheiro mor . Pela Sua sensibilidade em criar formas tão diferentes e pitorescas de relações humanas, verdades absolutas, desejos e crenças dispondo-as de maneira a interagir com a natureza e as forças físicas.
E nem por isso farei psicologia para entender essas pessoas e lugares, turismo para conhecê-los , sociologia para contextualizá-los e tão pouco física para entender as leis que regem tudo isso. Farei viagens e amizades. Depois, reflexões e post´s...rs... e quem sabe, um dia, um livro.
Tenho sim o sonho de escrever um livro e narrar minhas impressões do que vi , vivi e anotei em meus diários de viagem e do dia-a-dia. Mas muito mais para mostrar que vale muito a pena sair da zona de conforto que é conviver com pessoas parecidas com você e ir ao encontro de experiências novas e diferentes. Porque é onde há diferença que há troca. Do jeitinho que aprendi nas aulas de física que falavam da Lei da Termodinâmica...
...em uma faculdade de engenharia...

3 comentários:

Clara del Valle disse...

Conserve bem os diários, que eu adoro biografias com "bônus" (fotos, manuscritos, enfim, a alma do livro.)

bjs meus

Anônimo disse...

...como vc pode ser tao intensa, tao honesta, tao despida..tao única!...

eu nao "caibo" em mim de admiração...

Unknown disse...

Nossa, Anaclara... você conseguiu sintetizar exatamente o que eu penso, o que eu sinto e o que eu tenho vivido... É impressionante como temos que dar satisfacões das nossas escolhas, modo de vida... Interessante como as pessoas nos cobram por comportamentos que elas julgam combinar conosco, ou com aquilo que elas conseguem enxergar de nós e em nós... Lindo texto. Parabéns.